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Olhar além das imagens para entender o que Deus quer nos dizer

Foto do escritor: Pastoral da ComunicaçãoPastoral da Comunicação

A palavra de Deus hoje nos fala de duas maneiras diferentes: uma delas nos salva e a outra nos conduz à morte. Moisés, ao apascentar o rebanho em Madiã, viu um fenômeno estranho: um arbusto seco que pegava fogo, mas que não era consumido pelas chamas. E, ao aproximar-se deste fenômeno, lança um olhar curioso, daquele de quem vê um espetáculo impressionante da natureza, um fato estranho. Mas, quando ele está se aproximando, Deus fala e o convida a ter um outro olhar: “Não te aproximes! Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é uma terra santa” Ex, 3,5. O Senhor escolhe se comunicar através dessa imagem, dessa sarça que incendeia, mas não se consome. A presença e, em especial, o amor de Deus são, comumente, apresentados na Bíblia como fogo. Aproximar-se, escolher estar perto do Pai, é acercar-se do fogo de um amor que nunca se apaga. E é justamente esta manifestação de amor que Deus tem pelos seus filhos.

O povo, que saíra do Egito, estava como um arbusto seco, que não mais tinha suas raízes atingidas pela água que o mantinha vivo. Aquele povo, que vivia em meio a idolatria egípcia a cerca de 200 anos, estava tão distante do Senhor que já não mais se lembrava do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó e por isso padecia. Sofria a escravidão física, mas, apesar desta, enquanto estava no deserto, sentia saudade do tempo em que morava no Egito: “Ah, como era bom! Nós descansávamos do trabalho do lado das panelas cheias de cebolas que nós comíamos!”

A escravidão da qual o Pai quer tirá-los não é a socioeconômica, mas sim aquela desenvolvida por estar longe dEle, por ter se esquecido do Deus de Israel. O Senhor diz para Moisés: “Eu escutei o clamor do meu povo”. Aquele grito não é um grito de ajuda, mas, sobretudo, um grito animal da pessoa que não aguenta mais. Nos anos 70 apareceu uma teoria psicológica do grito primal. O psicólogo recomendava às pessoas irem para um lugar deserto ou para o alto de um edifício e gritarem, com todas as forças, como um animal. Este é o grito da pessoa que não aguenta mais, que está saturada. Pois bem, este é o clamor que Deus escutou daquele povo: um grito dirigido para ninguém, de puro desespero existencial e falta de sentido da vida.

Na segunda leitura de hoje vemos outro convite, sob um novo olhar. São Paulo fala com a comunidade cristã e explica que toda a história do Êxodo, da saída dos filhos de Israel do Egito, era a figura da verdadeira liberdade que Cristo vem nos dar e que nós recebemos no batismo.

Os filhos de Israel atravessam o Mar Vermelho. De um lado deste Mar eles são escravos, do outro eles já são livres. E São Paulo explica que esta passagem nos conduz a figura do nosso batismo: antes de passar pela água batismais éramos escravos, depois tornamo-nos livres. O Apóstolo fala, também, da bebida ealimento espiritual que é o próprio Cristo. A água que brota da rocha para saciar a sede dos filhos de Israel no deserto, aquela rocha é Cristo. Aquele alimento, aquele pão que caía do céu, que alimentava os filhos de Israel no deserto é a figura de Cristo, a figura da Eucaristia.

Desta forma, a Carta aos Corintios convida os cristãos a olhar além das imagens e dos sinais, para entender o que Deus tem a dizer. A maioria do povo que saiu do Egito não entendeu nada, tanto é que, durante a marcha pelo deserto, eles se deixaram levar pela cobiça, idolatria e murmuração contra Moisés e Aarão. Ou seja, não entenderam o que Deus estava realizando com eles. Conosco pode acontecer a mesma coisa. Podemos receber o batismo e não entender nada; receber a Eucaristia e não entender nada; escutar a Palavra de Deus e não entender nada; e continuar com o mesmo olhar, sem, portanto, aprender a olhar além.

Lucas, neste terceiro Domingo da Quaresma, nos diz que Cristo também convida para este olhar além das coisas. Algumas pessoas vão ter com Jesus e comentam sobre notícias daquela época: uma matança que Pilatos ordenou contra galileus, por causa do protesto que estes realizavam contra o desvio de dinheiro do templo. Diante da manifestação do povo, o governador passou a fio de espada os que estavam, publicamente, insatisfeitos com o desvio de finalidade das ofertas. Mas Jesus, ao invés de entrar na argumentação política e posicionar-se a favor ou contra um dos lados, lembrou a todos outro acontecimento: a torre mal assentada de Siloé que, por este motivo, acabou caindo e matando 18 pessoas. O povo explicava esses fatos do mesmo modo como muitos católicos explicam as coisas: “é castigo de Deus.”. Nós nos sentamos no trono e interpretamos, já julgando, que as coisas erradas acontecem por um castigo dos Céus. Isso é algo terrívelque nunca deveria sair da boca de um cristão católico para ninguém e por nenhum motivo: “Esse mal que aconteceu foi um castigo”. Isso é uma palavra de maldição e Jesus fala isso.

É comum encontrar textos nas redes sociais dizendo: “com Deus não se brinca”. Falam de artistas ou pessoas famosas que zombaram de Deus ou fizeram troca da religião e que depois morreram de forma trágica. Aí dizem: “essa pessoa trocou dereligião e morreu num acidente de avião”. Mas, e os outros 350 que estavam no avião? Todos zombaram de Deus? Essa é uma forma superficial e má de olhar para as coisas e para as pessoas e que não está de acordo com o coração de Deus.

Jesus diz: “Mas, se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo” Lc 13,4. E o que é a conversão? Em grego, “Metanoia significa justamente olhar além, entender o propósito de Deus na vida. É olhar o que Ele quer nos dizer com os fatos eacontecimentos que vão surgindo e passando diante dos nossos olhos, durante a vida. Deus nos fala o tempo todo, mas não escutamos porque não temos esse olhar além, não sabemos entrar no coração e dizer: “o que Deus quer me mostrar com tudo isso? O que Deus quer me ensinar, me revelar? Qual é o plano d’Ele paramim?” Está tudo lá no nosso coração.

Mas Deus imprime sua sabedoria, agindo com o respeito que manda a boa educação: quando uma pessoa fala, o outro ou os demais ficam quietos para escutar. Sendo assim, se nós estivermos com todo o barulho dentro do nosso coração, como é que vamos dar espaço para Deus falar? Precisamos fazer silêncio para que Ele fale, ensine e nos mostre o significado das coisas. Mas, para isso, é preciso silêncio, é preciso oração.

Por isso, irmãos e irmãs, a Igreja nos apresenta estes textos do Livro Sagrado na Liturgia de hoje, nos convidando a ter um novo olhar sobre as coisas... este olhar além de tudo que nos leva aentender o que o Senhor quer nos dizer em cada acontecimento da vida. Peçamos a graça desse “olhar além” para que vivamos, cada vez mais, em comunhão com o amor de Deus!

Baseado na transcrição da homilia do Pe. Celso Pôrto Nogueira do dia 24 de março de 2019

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